domingo, 28 de março de 2010

SOBRE A TEORIA DOS LIMITES

De vez em quando, quando me pego quieto e pensativo o pensamento escreve algo. Começo bastante despretensioso. Despretensioso também termino. Isso ajuda a refletir sobre os episódios de nossa vida. Eu aceito críticas...Preciso melhorar o texto! Um abraço a todos. Até mais!


SOBRE A TEORIA DOS LIMITES

Foi assim, foi uma frase, foi um susto! Estava como sempre estive. Faz Três anos que trabalho nas Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas sendo fiscal nas provas da 2ª fase. Absenteísmo altíssimo. De 40 alunos, apenas 12 compareceram para fazer a prova. Uma pena!

Os que compareceram concorriam a 300 medalhas de ouro; 900 medalhas de prata; 1800 medalhas de bronze; 3000 bolsas de iniciação científica e 30000 certificados de menção honrosa. Os professores e a escolas também recebem prêmios dependendo do resultado de seus alunos. Um incentivo.

Os alunos chegam como sempre: nervosos, apreensivos, com medo, pensam que tem mais a perder do que a ganhar. Falo menos dos prêmios e mais das oportunidades. Oportunidades são assim, elas aparecem quando menos se esperam... De repente! E aí “temos que estar prontos para nos atracar a elas”, palavras de meu pai.

No meu papel de fiscal, ao me devolverem a prova respondida, observo se esqueceram algo, caso positivo confirmo se esqueceram de responder ou se querem deixar em branco. Coisa de quem acha que sempre podemos dar mais um passinho à frente, um pulo, um salto, um vôo quem sabe...

Sonhos! Sonhos são simplesmente...Sonhos!

Como falaria ”Adelmo”, querido professor de Cálculo(s) I, II, III e Análise Matemática:

- “Limite...O que é limite? Limite é o ...................................................Limite!

Todos sorriam na sala, assim ele conseguia a atenção de todos, e aí, podia falar a definição matematicamente correta.

Eu tenho uma teoria sobre limites diferente da do Adelmo.

POSTULADO 01: Os limites de nossos alunos, às vezes, são os nossos limites, são impostos por nós todos que fazemos parte do sistema educacional.

REPEAT! Foi assim, foi essa frase, foi um susto! Ao observar a prova daquela garota de olhar tímido, achei que ela estava pensando que estava corrigindo sua prova. Passei as 8 folhas da prova, algumas questões feitas, outras menos. Na última folha estava escrito

“...desculpe OBMEP. Tem certos assuntos que nunca foram dados no meu colégio. Desculpe mas vou tentar...!”

Eu vejo aflição, tristeza, decepção. Quem sabe se ela tivesse tido a oportunidade de aprender na escola todos os conteúdos matemáticos que deveria ter aprendido, ela teria tido ao menos a possibilidade de se “atracar” nesta oportunidade.

Daí começamos a entender o discurso de Elda, quando esta quase que suplicando nos pede que, quanto mais humilde o aluno, mais Matemática devemos oferecer a ele. A humildade dele deve ser diretamente proporcional a quantidade de matemática que ele aprenderá.

Por isso falo que os limites de nossos alunos, às vezes, são nossos limites.

Chego a outro ponto... O (não) ensino de matemática pode gerar exclusão social. Imagine, talvez ano que vem, esta menina tenha simplesmente desistido... É claro, é muito mais fácil desistir...

Sonho! Sonhos são sonhos e eu tenho dos meus. Sonhos são imagens reais, que acontecem realmente em nosso cérebro mas na verdade são virtuais. Eu tive um sonho... Se esta menina tivesse um resultado razoável nesta prova, tenho certeza que ela estudaria para no ano que vem, quem sabe... MEDALHA DE OURO. Isso lhe daria animo, ímpeto, vontade e quem sabe um dia, se tornaria uma razoável professora de matemática. Sonhos...São só sonhos! ...Como falaria Adelmo.

Aquela garota teve uma oportunidade negada mas nunca vou saber se ela se saiu bem!

Reflexões de um Educador em trans-formar-ação.



PS: Carta em homenagem a Elda Tramm, querida professora que tanto nos ensinou no curso de Educação Matemática.



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Rafael Santos Cruz - Pós-graduando em Educação Matemática pela UCSAL

Professor de Matemática da SEC - Colégio Estadual Marcílio Dias

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